veracidadeversusmentira

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LAMENTO INFORMAR MEU(S)  SEGUIDOR(ES) QUE NÃO POSSO AVANÇAR COM ESTE BLOG PORQUE QUALQUER COISA DE GRAVE SE PASSOU COM A TRANSPOSIÇÃO DOS MEUS TEXTOS PARA A PUBLICAÇÃO. TUDO QUANTO DETERMINO SAI DO AVESSO OU NEM SEQUER DÁ QUALQUER SINAL DE SEGUIR PELAS VIAS NORMAIS, COMO ATÉ À DATA. FORMATAÇÃO É COISA QUE NÃO É OBEDECIDA.

ALIÁS, DESDE QUE MUDARAM O LAY-OUT, EM SETEMBRO, AS COISAS COMEÇARAM A NÃO CORRER BEM. POR VEZES, PRECISAVA DE UMA ENORME PACIÊNCIA PARA TENTAR MAIS DE MEIA DÚZIA DE VEZES PARA QUE O TEXTO E AS FOTOS FICASSEM COMO EU AS DESEJAVA.

ESPERO POR UM TÉCNICO PARA ME AJUDAR A "POR NA ORDEM" O QUE ME DETERMINEI A FAZER. COM O COVID, NO ENTANTO, NUNCA SE SABE QUE DIA SERÁ.

LAMENTO MUITO MAS NÃO TENHO CULPA DO SUCEDIDO.

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8OUT20

FRANÇOIS MANSART

Este arquitecto, tendo nascido em 1598 e morrido em 1666, foi um lídimo representante da arquitectura francesa, no sentido em que teria sido dos poucos arquitectos que, ao tempo, não se teriam deslocado uma única vez a Itália. À época, deveria ter sido uma excepção à regra, dado que apreendeu a nova linguagem através do que ia sendo feito em França e, nomeadamente Paris.

Uma das suas primeira obras é o pequeno chateau de Balleroy, por volta de 1626. Planimetricamente é uma composição de cinco rectângulos juntos, de três tamanhos diversos, "defendidos" por dois quadrados (figura 49.1). A composição é deveras interessante, constituindo uma mole muito movimentada, e implantando-se "à francesa" num arremedo de baluarte  baluarte

Figura 49.1 . Chateau de Balleroy . Planta térrea
François Mansart

O desenho dos alçados (figura 49.2) reproduz exactamente a planimetria do conjunto, congregando-se os volumes, com uma certa "intranquilidade", num conjunto vivo de planos diversificados que a volumetria não desmente.

Figura 49.2 . Chateau de Balleroy . Alçado principal
François Mansart

Figura 49.3 . Chateau de Balleroy . Vista geral da frente . François Mansart

Mais uma vez, "la chair de l'architecure" está presente, no jogo entre as componentes estruturantes - a pedra, e as componentes estruturadas - o tijolo.

                                      Figura 49.4 . Chateau de Balleroy . Alçado principal . François Mansart

De 1635 a 38, Mansart executa a sua primeira obra-prima, a ala Orléans, construída para o delfim, Gaston d'Orléans, irmão de Luís XIII mas que acabou por deixar de ser construída quando nasceu o sucessor de Luís XIII, o futuro Rei-Sol.
Já aqui se tinha falado desta ala do Chateau de Blois (figura 49.6). Ela justapõe-se à extremidade poente da nova ala que Francisco I mandara construir, com a sua célebre escadaria em caracol, encerrada num prisma oitavado, exterior e aposto à ala por apenas três lados. Esta nova ala apresenta-se em três andares, três estratos bem definidos e separados por entablamentos completos.

A unir os pisos, Mansart desenhou uma escadaria interior (figura 49.5) que, curiosamente não é centralizada, antes ocupando um ângulo. É de um desenho interessantíssimo, não muito usual, dado que a primeira cúpula ou quase melhor dito, o tecto se rasga numa cruz de braços curtos, e deia ver uma cúpula de planta redonda. 

       Figura 49.5 . Ala Gaston d'Orléans . Chateau de Blois
Escadaria interior. François Mansart

      Figura 49.5 . Ala Gaston d'Orléans . Chateau de Blois . François Mansart

Os três estratos/pisos são modulados por tramos iguais que se separam por colunas gémeas, no piso do terreiro, e por pilastras gémeas nos outros dois pisos. A ala, ocupando um dos lados do "cour", implanta-se em U, recebendo o corpo central um pequeno ressalto, com três fenestrações, sobre o plano que, no total, apresenta sete fenestrações. Este avanço ainda sofre um outro avanço mais pequeno referente à porta principal de acesso e a uma janela no segundo estrato. Este avanço faz o enquadramento para dois pórticos sobrepostos, sendo o segundo rematado por um frontão triangular sobre cujas rampantes descansam duas deusas. O remate do corpo central, por trás deste, remata com um frontão redondo, ocupando somente o tramo central.
Esta fachada, por si só, poderia representar aquilo a que se convencionou chamar de Classicismo Francês, e não Barroco Francês.
A ligação entre os corpos a 90º faz-se por meio de dois porticados simétricos, de planta circular, desprendendo-se das paredes do edifício (figura 49.6). É uma forma assaz receptiva que se separa da parte central, recta, fazendo lembrar as "barchese" Palladianas. O avançar destes dois lados do primeiro estrato são os únicos cujos tramos se sustentam em colunas, contrastando com as pilastras dos outros pisos.
      Figura 49.6 . Ala Orléans . Chateau de Blois
François Mansart

A rematar este conjunto em U, um alto telhado, de forte inclinação, é indiscutivelmente a aportação de um pensar arquitectural para dar resposta a clima pluvioso como desta zona de França.

Também não é por acaso que se deve a François Mansart o nome designativo de uma tipologia de telhados, o chamado telhado em MANSARDA, como a figura 49.7 tão em ilustra e que não é mais do que haver duas inclinações diferentes para cada uma das águas do referido telhado.
  Figura 49.7 . Telhado em mansarda

Entre 1632  e 34, Mansart constrói a igreja de Sainte Marie de La Visitation, em Paris. É uma igreja de planta centralizada (figura 49.8), com um círculo como nave, a que se associam mais seis compartimentos curvos, mais um quadrado, marcando a entrada e, finalmente, um elíptico contendo a Capela-Mor.
  Figura 49.8. Igreja de Sainte Marie de La Visitation . Planta . Paris
1632/34 . François Mansart

  Figura 49.9. Igreja de Sainte Marie de La Visitation . Cúpulas principal e sobre Altar-Mor . Paris . 1632/34
François Mansart
A figura 49.9 mostra, num mesmo enquadramento, a cúpula circular central da nave, propriamente dita, e a cúpula elíptica da Capela-Mor.

A figura 49.10 mostra o ângulo entre a face da entrada e a do lado do Evangelho. Atente-se bem a imagem e notar-se-á de imediato uma diferença enorme no tratamento das superfícies quer das paredes, quer das coberturas. As cúpulas da igreja, cobertas de ardósia, apresentam um volume "desmesurado" na composição da volumetria. Para além da cúpula central, também bastante comum na arquitecura italiana, esta cúpula sobre a entrada é por de mais impositiva, quase que relegando os alçados propriamente ditos para um segundo plano de importância. Alçados esses cobertos por telhados fortemente inclinados, nos dois terços inferiores e de inclinação menos abrupta no terço superior - cobertura em mansarda.

Também se observa que o alçado principal é rematado em empena redonda que abriga o pórtico coríntio, de elevado entablamento. Um óculo circular encaixa-se sobre o vértice deste frontão.

  Figura 49.10. Igreja de Sainte Marie de La Visitation . Fachadas principal. e  do Evangelho
Paris . 1632/34 . François Mansart
Apesar de uma planta bastante elaborada, os alçados exteriores parecem ter pouca relevância para um desenho de grande subtileza no desenho da planta. São bem mais expressivos as oito pilastras contrafortando o cilindro que recebe a cúpula e o lanternim. Não deixa de despertar alguma perplexidade somente quatro dos referidos contrafortes serem encimados por urnas de grande altura e algo finas, que a figura 49.11 melhor transmite.

 Figura 49.11. Igreja de Sainte Marie de La Visitation . Pormenor da cúpula
Paris . 1632/34 . François Mansart

O Palácio de Maisons ou de Maisons Lafitte como viria a ser conhecido, apresenta-se quase como uma súmula do pensamento arquitectónico de François Mansart. Principalmente se retivermos a volumetria do Chateau de Balleroy e a composição parietal da Galeria de Orléans, no Chateau de Blois, pode ver-se neste último exemplo, a mestria e eu juntar-me-ia à opinião de que se deve a François Mansart o "estilo" do Classicismo francês, o tão decantado barroco francês. Do século XVII, é, no entanto, difícil de determinar as datas exactas da sua construção (e reconstruções) dada a incessante vontade de Mansart querer sempre e mais e mais aperfeiçoar.
 Figura 49.12. Chateau de Maisons Laffitte . Vista do jardim . Paris . Século XVII . François Mansart
O edifício conglomera-se em cinco "pavilhões", cada qual quase que sendo independente no que concerne à disposição de tramos abertos e fechados.
A fachada Noroeste corresponde à entrada e faz um U, em que os braços que convidam o visitante têm dois corpos, o primeiro com a altura de dois pisos, no seguimento do corpo principal do edifício, e prolongam-se, por mais um tramo, com a altura de apenas um piso. É uma entrega e, ao mesmo tempo, um convite a quem chega.
Os corpos continuam a ser divididos em tramos separados por pilastras duplas e triplas quando o volume principal se destaca avançando com a recepção aos convidados. Mais uma vez o tramo central atinge os três pisos e remata os seus três tramos por meio de um frontão triangular irrompido.
Os telhados, de grande inclinação, dialogam com as chaminés de forte presença e implantação simétrica.

 Figura 49.13. Chateau de Maisons Laffitte . Vista da entrada - Noroeste . Paris . Século XVII . François Mansart
A vista Noroeste, da entrada, tem um escalonamento de volumes muito interessante, quer planimétrica quer volumetricamente, conforme melhor revelam as plantas dos pisos principais. 
Figura 49.14. Chateau de Maisons Laffitte . Plantas dos pisos habitáveis
 Paris . Século XVII . François Mansart
O corte da figura 49.15 mostra bem a implantação da casa que além dos dois pisos nobres, ainda tem um subsolo e três pisos habitáveis.
Figura 49.15. Chateau de Maisons Laffitte . Corte transversal
 Paris . Século XVII . François Mansart

Figura 49.16. Chateau de Maisons Laffitte .Vista sobre o Jardim . Alçado Sudeste .  Paris . Século XVII
François Mansart

Figura 49.16Chateau de Maisons Laffitte .Vista sobre o Jardim . Alçado Sul
Paris . Século XVII . François Mansart
A figura 49.16 revela bem a complexidade da forma deste palácio com os "pavilhões" franceses ultrapassando uma unidade formal difícil de harmonizar

a seguir (22OUT80):
LOUIS LE VAU

48 a

24SET20
NOTA: Peço desculpa por o Capítulo 48 ter aparecido extemporaneamente. Foi um descuido lamentável. Por isso, publica-se, hoje, o 48a, depois de já corrigido e revisto


FRANÇA (cont.)


LA PLACE ROYALE - PLACE DES VOSGES


A figura 48.1 dá-nos uma visão da Place des Vosges através de um desenho bastante fidedigno. Dois dos lados do quadrado, que esta praça desenha, têm em destaque dois códigos linguísticos distintos do resto dos lados todos iguais. São eles os respeitantes ao Pavilhão da Rainha e ao Pavilhão do do Rei, paralelos e, portanto, separados pela grande praça real.

Mandada construir por Henrique IV, foi inaugurada em 1610 tendo constituído o primeiro caso urbanístico de residências nobres, numa perspectiva de ter os Reis rodeados pelos membros da sua corte. É um imenso quadrado de 140x140 metros.
Figura 48.1 . Place des Voges . Paris . 1610
A figura 48.2 dá-nos uma visão fotográfica dos dias de hoje, em que se pode verificar a entrega total da arquitectura ao desenho de projecto. Provavelmente este deve-se a Jean Baptiste Androuet du Cerceau, um dos arquitectos da família dos du Cerceau.
Figura 48.2 . Place des Voges . Paris . 1610
A diferença entre a orientação das duas imagens deve-se a que na foto, as alas do Rei e da Rainha estão de frente e não de escorço como no desenho da figura 48.1.
Esta praça é notável, a vários títulos, a começar por ser a mais antiga praça de Paris, como ter iniciado a introdução destes "terreiros" planeados, como ainda ser um "condomínio fechado", avant la lettre, mas só para os membros da nobreza. Também me parece muito significativo o facto dos edifícios não terem uma arquitectura extremamente sofisticada, até bem pelo contrário, como explicarei a seguir. As casas, apesar de não terem a mesma área, não foi impeditivo que não tivessem a mesma arquitectura. As excepções são unicamente a Casa do Rei e a Casa da Rainha, que a figura 48.3 mostra, excepções que se destinam apenas a alteá-las através da altura da arcaria do primeiro piso, posto que a altura das zonas de cheios e vazios é a mesma.
Figura 48.3 . Place des Voges . Pavilhão da Rainha . Paris . 1610
Cada uma das quatro alas contém o equivalente a onze prédios, que se destacam uns dos outros pelo recorte dos seus telhados. Cada prédio divide-se em quatro panos de parede de tijolo separados uns dos outros por ombreiras e fiadas verticais de pedras alternadamente maiores e mais pequenas. De assinalar que os pavilhões reais têm cinco janelas e não quatro. 
Figura 48.4 . Place des Voges . Pavilhão da Rainha . desenho . 1610 . Paris
A figura 48.4 mostra o alçado de um troço que envolve o Paço da Rainha e é curioso verificar com acuidade que as únicas horizontais comuns ao paço e aos outros palacetes são dadas pela altura da faixa que forma uma espécie de platibanda.
O remate superior de cada um destes edifícios faz-se por quatro lucarnas, sendo as extremas de remate redondo e as do meio mais altas e de remate de padieira sob frontão triangular.

Já a propósito do Chateau d'Anet referi a mistura de tijolo e pedra como sendo aquilo a que os franceses chamam de "chair de l'architecture" e que está bem patente nas paredes exteriores deste conjunto residencial monumental. A figura 48.5 não só o demonstra como também fotografa a casa onde viveu Victor Hugo.

E, a propósito do Chateau d'Anet, devo emendar o facto de ter referido que a ala onde se encontra a capela palatina, ter sido destruída aquando da Revolução Francesa e não nunca ter sido construída como, erroneamente o declarei,  facto que peço desculpa aos meus seguidores.
Figura 48.5 . Place des Voges . pormenor 
Todo o rez-do-chão é levantado, em arcaria, com um desenho extremamente simples e de grande efeito visual onde (figura 48.6), mais uma vez o processo construtivo de tijolo e pedra é posto em relevo.
Figura 48.6 . Place des Voges . pormenor da galeria do piso térreo
É uma praça belíssima, com um discurso arquitectónico sem grandes adjectivações, valendo pela uniformidade majestosa. 
E, como última nota, uma interpretação (figura 48.7) de meados do século XX pela mão de um dos pintores mais famosos desse século, Jean Dubuffet, o que esteve na origem da chamada Arte Bruta.
Figura 48.7 . Place des Voges . Jean Dubuffet

Também a Henrique IV se deve outra praça parisiense, iniciada em 1605, como oferta do rei para o seu filho, futuro Luís XIII. Tem um desenho muito peculiar, em triângulo (figuras 48.8 e 48.9), aproveitando o recorte natural da ilha da La Cité, e dando frente para a Ponte Nova - le Pont Neuf. O vértice do triângulo é substituído por um pequeno maciço, de planta quadrada,que serve de base a uma estátua homenageando Henrique IV.
Figura 48.8 . Place Dauphine . Desenho
Figura 48.9 . Place Dauphine . Paris
Infelizmente que, dos edifícios que originalmente teriam a mesma fisionomia dos da Place des Vosges, apenas os da frente mais pequena (figura 48.10) e alguns outros foram construídos à imagem e semelhança (figura 48.11).
Figura 48.10 . Place Dauphine . Paris . Frente Poente
Figura 48.11 . Place Dauphine . Paris . Interior sul
É sempre de lamentar que um projecto "bem intencionado" como este não tenha sido cumprido tal como foi pensado. É de notar que os dois edifícios, que rematam um dos ângulos do triângulo e que defrontam o Sena, têm uma altura compatível com a sua ocupação do terreno. O mesmo não se poderá dizer dos prédios que estão inseridos nos outros dois lados do triângulo não tivessem respeitado as cérceas dos primeiros. De boas intenções...

As questões urbanísticas vinham impondo-se no sentido de fazer da cidade o lugar de eleição da nobreza. A cidade é também cada vez mais o lugar dos burgueses, classe ascendente e de rendimentos provenientes do trabalho não agrícola. A cidade haveria de conquistar as populações que deixavam o campo, pelas vicissitudes das vidas duras que se conhecem. Nesse sentido, Paris foi das primeiras capitais a metamorfosear os seus prédios de habitação, tentando dar-lhes uma feição de harmonia para que as ruas tivessem, também, os seus "alçados", tal como se pretendia para cada prédio. Como que cada rua tivesse apenas um único prédio, em toda a sua extensão. Apesar de ser já do início do século XIX, a Rue de Rivoli (figura 48.12), em Paris, é bem o exemplo acabado da fachada de rua.
Figura 48.12 . Rue de Rivoli . Paris
Paradigmático deste gesto de urbanidade é a Place Vendôme, no coração da cidade. Place Vendôme, como também des Victoires como ainda Place Louis le Grand. Datando o seu desenho dos finais do século XVII, faz parte de uma zona rural a ser integrada na cidade de Paris. A sua planta é um octógono irregular, ou seja um rectângulo a que se chanfraram os cantos. É atravessada somente no sentido dos lados maiores, partindo da actual Rue de Rivoli e desembocando no Convento das Capuchinhas (figura 48.13), dessa época. Hoje é aqui que nasce a famosa Rue de La Paix que se estende até à Opera de Garnier.
Figura 48.13 . Place Vendome e as Capuchinhas . Paris
A vontade de cada rua ter uma fachada única, bem como as praças, traz como consequência a não coincidência dos limites dos lotes com a dinâmica dos alçados. A figura 48.14 mostra bem o desfasamento entre alçados e lotes.
Figura 48.14 . Place Vendome - desenho de projecto . Paris
A figura 48.15 dá-nos uma perspectiva aérea da praça, tendo-se mantido quase que a cem por cento o projectado.
Figura 48.15 . Place Vendome - Vista aérea . Paris
Figura 48.16. Place Vendome - lado Nascente . Paris
A figura 48.16, mostrando o lado Nascente da praça, dá a ver a resolução assaz inteligente do projecto das fachadas. Assim, repare-se que elas são constituídas por uma contínua multiplicação de tramos estreitos apenas suficientes para conterem uma abertura, tornando a divisão dos lotes bastante fácil, na medida em que um lote poderia ter apenas o correspondente a três tramos como o seguinte a apenas dois ou sete, etc.. 
As fachadas são compostas por um podium em arcaria onde assenta um estrato único dividido em dois pisos. 
Os alçados dos lados a 45º são divididos por meias colunas, assim com os meios dos alçados paralelos ao atravessamento da praça. Estes troços são coroados por frontões triangulares soerguendo-se apenas a três dos cinco tramos que constituem estas excepções. Por cada renque de janelas separadas por pilastras erguem-se lucarnas que se rompem em espaldares em forma de sino coroados em curva.
Ainda hoje, é uma das praças mais sofisticadamente arquitectadas, no mundo inteiro.

E para finalizar o tema das praças parisienses, talvez falar da que será a mais emblemática de todas, a Place de La Concorde, na margem norte do Sena. Praça com um historial bastante sanguinolento, pois nela se montou o cadafalso que, durante a Revolução Francesa, também vitimou Maria Antonieta (figura 48.17)
Figura 48.17 . Place de La Concorde . Decapitação de Maria Antonieta . Paris
É uma praça notável, com um desenho excepcional que se implanta entre dois jardins contínuos, o das Tulherias a Nascente e o dos Campos Elísios a poente. No centro geométrico implanta-se o obelisco de Luxor e a fonte dos Mares e a Fonte dos Rios. A enquadrá-la, a Nordeste, dois edifícios gémeos, o Ministério da Marinha e várias associações sob o mesmo figurino. Entre estes edifícios, nasce a Rue Royale que desemboca na Praça em cujo centro se implanta a Igreja da Madalena (figura 48.18) que com o obelisco, estabelece um eixo de forte implantação citadina.
Figura 48.18 . Place de La Concorde . Paris
A figura 48.19, uma perspectiva contrária à da figura 48.18, mostra bem a grandiosidade deste sentido de grandiosidade.
Figura 48.19 . Place de La Concorde vista desde a entrada para a Igreja da Madalena . Paris


a seguir: (8OUT80)
49
FRANÇOIS MANSART
LOUIS LE VAU

47 
 10SET20
 FRANÇA (cont.)

PIERRE LESCOT

Pierre Lescot (1515/1578) foi um dos arquitectos que fizeram a transição do século XVI para o XVII.
De Lescot ficou uma das alas do Louvre, com uma fachada (figura 47.1) já a passos enormes de um barroco peculiar, o chamado classicismo francês. Com efeito, apesar de uma parede de grande decorativismo, há como que uma contenção de grande equilíbrio entre as partes constitutivas. O corpo divide-se em "pavilhões", isto é, há três corpos que avançam, deixando outros dois, mais largos, recuados. Os corpos que avançam têm a mesma tipologia que vimos nas fachadas anteriores: colunas duplas separadas abrindo-se no meio para dar lugar a lumes simples. O ritmo é a b a' b a e o alçado divide-se em dois estratos sob um ático-piso. 
O telhado revela-nos que o edifício se erigiu num país setentrional.
Figura 47.1 . FAchada da ala Lescot do Museu do Louvre . Paris . Pierre Lescot
Nesta ala do Louvre existe uma escadaria monumental, cuja decoração ainda se encontra sob a influência do renascimento, conforme as figuras 47.2 - o desenho, e a 47.3 - a fotografia, o demonstram.
Figura 47.2 . Escadaria da ala Lescot do Louvre . Paris . Pierre Lescot
Figura 47.3 . Escadaria da ala Lescot do Louvre . Paris . Pierre Lescot

Também a Lescot de deve a sala das Cariátides, que a figura 47.4 representa.
Figura 47.4 . Sala das Cariátides do Louvre . Paris . Pierre Lescot

A Fonte dos Inocentes - la "Fontaine des Halles" (figura 47.5), em Paris, é uma peça com um encanto especial. Um paralelepípedo de planta quadrada com quatro faces iguais, cada uma constituída por um arco de triunfo de ritmo a b a, em que os tramos a são mais estreitos que o tramo central, b, que se abre em arco de volta perfeita. Os tramos são divididos por pilastras coríntias sobre as quais se sobrepõe um entablamento. Sobre esta cornija sobrepõe-se um ático/dado sobre o que, por sua vez , se ergue um frontão cujas rampantes nascem somente sobre os tramos b.
Figura 47.5 . "Fontaine des Halles" . Paris . Pierre Lescot
Este conjunto paralelepepédico assenta sobre um podium de cinco degraus que perfazem uma cascata sobre a qual a água jorra. é um jogo um tanto "maquiavélico" na medida em que os degraus não servem para se ir ao poço buscar água mas sim como uma cascata tetrapartida.
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SALOMON DE BROSSE

Foi um dos arquitectos de renome de França, tendo nascido em 1517 e morrido a 1626.
É a quem se deve a primeira fachada barroca para uma igreja de Paris, já existente, igreja gótica, de Saint Gervais et Saint Protais. Também o nome de Clément Il Métesau é indicado como tendo sido o seu autor. Dado que este foi aluno de De Brosse, também é possível que tivesse colaborado nela com o seu Mestre. Trata-se de uma fachada que tem muitas parecenças com a parte central da fachada de uma ala do Chateau d'Anet, que vimos no capítulo anterior (figura 47.6). Com efeito, a parte central divide-se em três estratos, três pórticos sobrepostos. 
Figura 47.6 . Chateau d'Anet . Anet
Esses três pórticos são constituídos por colunas duplas não geminadas, o que lhes confere alguma maior solidez visual. O pórtico de baixo é da ordem dórica, o do meio da ordem jónica e o superior é da ordem coríntia, revelando, talvez, uma justificação de plena absorção da nova linguagem, do novo código linguístico da Renascença. As colunas do pórtico do primeiro estrato assentam directamente no chão, tendo as respectivas bases contacto directo com ele, enquanto que as duas superiores assentam sobre pedestais que se ligam através de um ático/piso.
Figura 47.7 . Saint Gervais . Saint Portais . Fachada . Paris . Salomon de Brosse
Saint Gervais tem um desenho com mais qualidade, mais refinado. Tem uma composição de tramos a b a, separados por colunas geminadas (enquanto que em Anet as colunas são apenas paralelas). O remate do primeiro estrato faz-se por um entablamento dórico, como dóricas são também as colunas, com um friso bem alto e onde não faltam as métopas e triglifos. Sobre a cornija, de pouca altura mas de projecção que equilibra o conjunto do entablamento, assenta o segundo estrato da ordem jónica que, por sua vez, assenta sobre um ático/dado que absorve a altura do frontão triangular que coroa o tramo central. Sobre este estrato assenta o terceiro e último, reduzido apenas ao tramo b que remata com um frontão redondo, apenas mostrando a sua cornija. Os tramos ficam em recesso em relação às colunas, provocando o efeito de ondulação parecendo perfilar-se uma fachada de convexidades e concavidades, que a figura 47.8 explicita bem.
Figura 47.8 . Saint Gervais . Saint Portais . Fachada (pormenor) 
Paris . Salomon de Brosse
Somente por curiosidade, insiro uma vista do interior desta igreja (figura 47.9) cujo código linguístico, gótico, em nada, tem a ver com o exterior.
Figura 47.9 . Saint Gervais . Saint Portais . Interior . Paris

O Parlamento de Rennes, como é mais conhecido o parlamento da Bretanha, é uma obra de De Brosse e é constituído por cinco pavilhões, quase como que um distintivo pavilhonar francês, sendo o central apenas ligeiramente saliente ao corpo do edifício (figura 47.10). Dois pisos/estratos, separados por um dado que percorre toda a superfície da fachada. Os tramos são divididos por pilastras geminadas, exceptuando a separação dos dois tramos de cada pavilhão extremo, e o do pavilhão central que é limitado por colunas geminadas. Por sobre este pavilhão e a rematá-lo, uma empena rematada por frontão curvo.
Figura 47.10 . Parlamento da Bretanha . Rennes . Fachada principal . Salomon de Brosse
À boa maneira francesa, este edifício é coberto por duas águas revestidas de ardósia e de forte inclinação, denotando o clima chuvoso da cidade de Rennes.

Mas o nome de Salomon de Brosse ficaria mais identificado com o Palais de Luxembourg, (figura 47.11) mandado erigir pela Rainha Viúva de Henrique II, Catarina de Medicis.
O palácio começou a erigir-se em 1615 e, em 1624, a obra passou para outro construtor, embora o desenho de De Brosse tenha aparentemente sido fixado e seguido à risca.
Figura 47.11 . Palácio do Luxemburgo . Implantação . Paris . Salomon de Brosse
A planta deste enorme palácio teria seguido o costume de se proporcionar o célebre "cour d'honner» - pátio de honra - que seguiria o uso parisiense de homenagear os hóspedes, enquanto também serviria para demonstração do poderio dos seus proprietários. A figura 47.12 mostra-nos a frente para a Rua de Vaugirard.
Figura 47.12 . Palácio do Luxemburgo . Entrada pela Rua de Vaugirard Alçado Norte
Paris . Salomon de Brosse
Embora a imagem não dê todo o desenvolvimento da fachada, ela aparece com o esplendor da proposta arquitectónica na figura 47.13 onde o pavilhão central é "romano" e os torreões laterais são "franceses".
Figura 47.12 . Palácio do Luxemburgo . Entrada pela Rua de Vaugirard . Desenho de alçado Norte. Paris
Salomon de Brosse
Figura 47.13 . Palácio do Luxemburgo . Alçado frente aos jardins do Luxemburgo
Paris . Salomon de Brosse
A figura 47.13 mostra-nos a outra fachada principal mas voltada para o Jardim de Luxemburgo.
Figura 47.13 . Palácio do Luxemburgo . Alçado frente aos jardins do Luxemburgo - pormenor . Paris
Salomon de Brosse
A figura 47.13 dá-nos a ver uma composição bastante caprichosa com colunas e paredes de aduelas sobrepostas e de espessuras diferentes, uma a uma, sendo o mesmo com os fustes das colunas cilíndricas. Remata a fachada uma expressiva cornija arquitravada, remetendo para a ordem dórica. O frontão em respaldo remata em "cabeça de parafuso" fazendo lembrar o remate de Santa Maria della Pace, em Roma, de Pietro da Cortona.
O Palácio alberga há bastantes anos o Senado Francês, de que a figura 47.14 nos dá uma ideia.
Figura 47.13 . Palácio do Luxemburgo . Sala do Senado

Figura 47.14 . Coroação de Catarina de Medici . Pieter Rubens

Catarina de Medici, viúva consorte de Henrique II, de França, ficou imortalizada nesta pintura de Peter Paul Rubens (figura 47.14), de cerca de 1620.

a seguir: (24SET20)
PLACE ROYALE - PLACE DES VOGES
PLACE DAUPHINE 
PLACE VENDÔME