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GIOVANNI MARIA FALCONETTO - o Percursor das logge?
BALDASSARE PERUZZI - A Grande Incógnita do all'antica
Referido por várias fontes, ao arquitecto e pintor Giovanni Maria Falconetto (1438/1535) se ficou a dever a primeira loggia renascentista: Alviso Cornaro (figura 11.1), em Pádua. Esta construção antecede as logge de Palladio e Sansovino.
Figura 11.1 . Loggia Alviso Cornaro . Pádua . 1524 . Giovanni Maria Falconetto |
A construção inicial, 1524, constava somente do piso térreo da loggia, uma estrutura de cinco arcos, sendo o do meio ligeiramente mais largo, pressupondo, portanto, um arco ligeiramente abatido. Os arcos, descarregando em pilastras aparentando a ordem toscana, têm, no entanto, capitéis altos. Entre os arcos e rematando os arcos extremos, Falconetto desenhou colunas dóricas sobre pedestais. Remata esta composição um entablamento dórico, de forte expressão, acusando os empuxes relativos aos topos dos capitéis das colunas. Por sobre o arco central o entablamento avança a mesma dimensão da espessura dos empuxes relativos aos capitéis. Mais tarde acrescentar-se-ia o segundo piso, de pilastras jónicas assentando sobre um ático-dado, contendo os pedestais das pilastras. A composição da parede é bastante delicada, com cinco janelões: três cegos e rematados por frontões triangulares apoiando-se sobre mísulas. Frente a cada uma das janelas cegas fica uma estátua, com a deusa Diana ocupando a central. As verdadeiras janelas são coroadas por frontões circulares, também suportados por mísulas.
Esta loggia destinou-se a servir de frons scenae, ou seja, de cenário a peças teatrais que se desenrolariam nos jardins da casa de Alviso Cornaro, o comitente da obra.
Também se deve a Falconetto duas das portas da cidade de Pádua: a porta de São João, de 1528, e a Porta Savonarola,de 1530.
Figura 11.2 . Porta de São João . Pádua . 1528 . Giovanni Maria Falconetto |
Os alçados externos destas duas portas da cidade podem bem representar duas variações sobre o mesmo tema, tão parecidas são.
Figura 11.3 . Porta de Savonarola . Pádua . 1530 . Giovanni Maria Falconetto |
Assim, de um estrato e um ático portentoso, com três tramos divididos por meias-colunas ou, talvez geometricamente melhor dizendo, por 3/4 de colunas coríntias, as duas portas da cidade ostentam o portal principal da entrada ladeado por uma janela cega, uma provável edícula com algum elemento estatuário que teria ou não estado presente, em cada um dos tramos laterais. O ático divide-se também em três tramos, separados por uma espécie de friso vertical, e sendo contidos lateralmente por pilastras toscanas simplificadas. Por sobre cada um dos ático-dados, eleva-se um ático-piso revelando uma singeleza não-consonante com a adjectivação discursiva dos dois primeiros estratos.
Enquanto que na porta de São João as colunas embebidas são da mesma pedra da parede, na porta de Savonarola as colunas são de pedra branca, a tão afamada pedra de Istria, fazendo grande constaste com a parede.
As edículas da porta de São João são extremamente elaboradas, constando de arcos ladeados por colunas coríntias e sobrepostas por um frontão triangular a que se sobrepõe uma verga recta, encimada, a meio, por uma peanha parecendo destinar-se a suportar um elemento escultórico.
As edículas da porta de Savonarola são mais simplificadas, pois que os arcos são contidos por ombreiras e uma verga, estriadas e sobrepostas por uma cornija descarregando em mísulas na parede. Por sobre cada uma destas edículas desenha-se um medalhão redondo com um busto. No ático, em cada um dos tramos laterais, a porta Savonarola ostenta um brasão de armas. No ático da porta de São João cada tramo lateral ostenta uma espécie de cartela mas com a imagem perfeita de um pergaminho. Em qualquer dos tramos centrais das duas portas insere-se o leão alado, símbolo de Veneza.
É interessante que os entablamentos dos primeiros estratos e as cornijas arquitravadas dos áticos tenham o mesmo desenho em qualquer uma das portas.
A figura 11.4 mostra-nos como funcionou a porta Savonarola, com a sua ponte levadiça, defendendo uma das entradas da cidade de Pádua (antes da existência da ponte).
Figura 11.4 . Porta de Savonarola . Pádua . 1530 . Giovanni Maria Falconetto
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BALDASSARE PERUZZI
A Grande Incógnita do all'antica
Falar de Baldassare Peruzzi é como falar de um arquitecto que inovou em vários sentidos, como tentarei provar, ao ter produzido uma obra arquitectónica tão expressiva e inovadora. Diria mesmo que o seu Palazzo Massimo alle colonne, em Roma, é de um engenho insólito, unicamente reservando para o piso térreo as estruturas de pilastras e colunas necessárias e simuladas, conforme se verá.
Mas antes de vermos algumas das suas arquitecturas, não nos podemos esquecer que Peruzzi era também um exímio pintor, como aliás, muitos dos arquitectos desta época moderna. A figura 11.5 mostra-nos o desenho alusivo a Atlas, agachado.
Figura 11.5 . Atlas agachado . Baldassare Peruzzi |
A Villa Chigi alle Volte (figura 11.6), assim chamada por pertencer à família Chigi e situar-se perto da localidade de Le Volte, sempre me pareceu uma composição um tanto “estranha”, titubeante, em relação ao vocabulário renascentista, quase que mesmo de principiante na procura da arquitectura all’antica.
Figura 11.6 . Villa Chigi alle Volte . 1500 . Baldassare Peruzzi |
A casa é de planta em U, das primeiras a apresentarem esta tipologia, e a parte central, recuada, tem quatro arcos de volta perfeita, tanto em cima como em baixo. O número par de arcos também deixa um suporte vertical servindo de eixo de simetria. Estes arcos são demarcados com molduras demasiado finas, sendo, portanto, unicamente apostas como guarnições. O segundo piso primitivamente avarandado (como o desenho mostra) foi tapado posteriormente.
As paredes têm dois estratos separados por um finíssimo friso, e sobre este friso assentam as janelas do piano nobile. As janelas do piso térreo lembram mais postigos, embora com alguma expressão, do que as janelas presentes no piso de cima. Todas as janelas, tanto as de baixo como as de cima, têm a padieira recta rematada por cornija arquitravada. Mas o mais surpreendente é o facto de o entablamento que coroa a parede ser composto por uma fina arquitrave, um friso muito alto e, finalmente, uma cornija saliente. O que mais impressiona, no entanto, é que o suposto friso corresponde a um piso habitável, normalmente para a classe serventuária.
Temos aqui uma "infracção” à regra do sistema construtivo: um friso é parte integrante do entablamento, um estruturante horizontal do sistema trilítico! Como, então, poder ser habitável?
Passados cerca de oito anos depois desta construção, Peruzzi elabora um outro projecto, o da Villa Farnesina (figura 11.7), perto de Roma. Parece não haver dúvida que a villa Chigi alle Volte serviu como um ensaio para uma obra mais amadurecida, mais congruente com a linguagem clássica. Assim, a parte central, recuada, tem um número ímpar de tramos, cinco arcos no primeiro piso e cinco tramos rectos no segundo piso e, como mais justo, o eixo de simetria no meio de um vão.
Figura 11.7 . Villa Farnesina . 1508/11 . Roma . Baldassare Peruzzi |
O edifício eleva-se sobre um pequeno soco, com postigos indicando a existência de uma cave, soco esse sobre o qual assenta um ático-base com ressaltos correspondendo aos pedestais das pilastras e com ressaltos conformando os peitoris das janelas do primeiro piso que são rematadas por cornija arquitravada de boa presença. Bem acima de cada janela, encostado ao friso do entablamento que separa os dois pisos, abre-se um pequeno postigo, quadrado, podendo revelar um mezanino.
O segundo piso repete o mesmo tipo de janelas também encimadas por cornijas arquitravadas e, encimando a(s) parede(s), Peruzzi remata a composição com um entablamento luxuoso de composição que, apesar de uma arquitrave curta, ostenta um friso elaborado com guirlandas e por fim uma cornija alta, saliente e denticulada. E, mais uma vez, repetindo o que fez em Chigi alle Volte, abre janelas no friso, que intermedeiam com as guirlandas. E, por isso, mais uma vez põe-se a interrogação: sendo o friso uma viga estrutural, como pode ser “habitada”? É evidente que tanto a pergunta como a resposta são uma provocação, uma figura de retórica. Claro que é a parede que se adorna do significado de entablamento e, logicamente, atrás dela, e por ela, se conforma parietalmente uma dependência espacial da casa. Mas, o que está manifestamente expresso é, de facto, um entablamento. E, se atendermos à pureza da linguagem antiga, não poderemos estar senão perante uma inversão entre estruturante/estruturado, isto é, senão perante um maneirismo!
Figura 11.8 . Planta do 1º piso e alçado principal. |
A planta do piso térreo apresenta uma "quase-simetria" nas duas alas da vila. A fachada principal deste palacete obedece à conjugação de dois quadrados, mantendo a mesma solução arquitectónica para os diferentes vãos e diferentes estruturantes já utilizados na fachada posterior, conforme a figura 11.8.
Este palacete também é celebrado por no seu interior haver algumas salas ornadas de frescos. Uma das mais célebres salas é a que a figura 11.9 nos mostra. Na parede de frente parece inserir-se uma abertura da sala para um terraço, abertura essa praticada por um porticado de três lumes, de colunas dóricas de bases e capitéis dourados. Se não fora a existência das portas, colocadas de cada lado, a da direita revelando-nos a interioridade da sala contígua, a ilusão de óptica seria total.Ainda que menos óbvio, tanto do lado esquerdo como do direito, da foto, abrem-se outros espaços de "exterior" conformados com pilastras em vez de colunas. E é de reparar na subtileza com que Peruzzi distorce o campo de visão da frente, dando-lhe uma torção para a direita aumentando ainda mais o efeito do magnífico trompe l’oeil.
Figura 11.9 . Frescos da “Sala das Perspectivas” da Villa Farnesina . Baldassare Peruzzi |
De Baldassare Peruzzi são as duas sugestões para a entrada de uma capela, demonstrando a sua enorme versatilidade como grande arquitecto (figura 11.10).
Figura 11.10 . Estudo para entrada de capela . Baldassare Peruzzi |
Mas, a coroa de glória da sua arquitectura viria a ser o Palácio Massimo alle collone, em Roma, assim designado por pertencer à Família Massimo, distinguindo-o dos outros dois palácios, também em Roma, e alle collone por ter colunas na sua fachada. O lote, bastante irregular, é, no entanto, bem aproveitado (figura 11.11), conseguindo, inclusivamente, a existência de um cortile com um carácter um tanto monumental, em relação aos limites do lote urbano.
Figura 11.11 . Palazzo Massimo alle Collone . planta, corte e cortile . 1532/36 Roma . Baldassare Peruzzi |
Figura 11.12 . Palazzo Massimo alle Collone . Fachada principal . 1532/36 Roma . Baldassare Peruzzi |
A fachada da rua, deste palácio (figura 11.12), é um daqueles exemplos que se pode afirmar não se ter repetido. De facto, as condicionantes do lote não seriam as mais regulares. A planta do edifício, acompanhando a curvatura da rua, hoje Corso Vittorio Emanuele, também lhe proporcionou um aspecto inabitual. O primeiro piso, de linguagem estritamente vernacular, quanto ao léxico, mas de sintaxe pouco ou nada regular, dispõe-se em quinze tramos, com o seguinte ritmo: a b a b a’ b’ a’’ c a’’ b’ a’ b a b a.
É, de facto, uma composição, de todo, invulgar. Explicando melhor, os a são os vãos mais estreitos conformados por pilastras, os b os vãos maiores conformados por pilastras, os a’ são os vãos pequenos conformados por pilastras e colunas, os b’ são os conformados apenas por colunas, os a’’ são os vãos pequenos conformados apenas por colunas, e c é o vão conformado apenas por colunas, o mais largo, portanto diferente da largura dos a e dos b.
Este piso térreo rasga-se num porticado de sete lumes ladeado por duas janelas de cada lado.
As janelas são rectangulares e de molduras simples, acusando superiormente um pequeníssimo vão rectangular à feição de mezanino. O rusticado é aparente em toda a superfície da fachada, contrastando com o desenho mais delicado de todas as molduras e dos suportes verticais, tanto as colunas como as pilastras da ordem toscana. O porticado corresponde a uma loggia (figura 11.13), magnífica, para a proporção do lote. Um entablamento bem proporcionado divide este piso dos pisos superiores, em número de três, sem qualquer demarcação de estratos. Portanto, a fachada divide-se apenas em dois estratos e quatro pisos.
No segundo piso rasgam-se sete janelas que se apoiam sobre um ático-dado que se salienta em pequeníssima sacada correspondendo a cada peitoril. As padieiras são desenvolvidas em cornijas arquitravadas, suportadas por duas mísulas, salientando-se a cornija da parede com uma inclinação aproximando-se dos 45º.
Os dois andares superiores têm janelas rectangulares, dispostas na horizontal, e encastoadas em cartelas. O eixo de simetria deste alçado é dado pelo desenho do porticado do primeiro piso e pelo número ímpar de aberturas.
Figura 11.13 . Loggia do Palazzo Massimo alle colonne . Roma .Baldassare Peruzzi |
a seguir (14MAR19):
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GIULIO PIPPI - o maneirista ROMANO