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12SET19
Andrea Palladio - TEATRO OLÍMPICO - Vincenzo Scamozzi
E, finalmente o Teatro Olímpico que, como foi dito no capítulo anterior, disputa o ómega da obra de Palladio com a igreja Barbaro ou, melhor dito, Tempietto Barbaro.
Por fora, o teatro não transparece a sua beleza arquitectónica e cénica que se revela apenas no interior. Somente uma porta de acesso, com algum relevo, dá acesso ao recinto contornado por edificações e entre as quais a que contém o teatro.
É teatro all'antica ou seja um teatro à italiana, avant la lettre (fig. 25.1). Com efeito, a planta da zona destinada aos espectadores é em semi-oval, aberta para a cena - a fons scaenae -, que é muito profunda, conforme se pode ler na planta e na gravura.
A parede curva, que se opõe à cena é constituída por 3 edículas + 7 vãos da colunata + 9 edículas + 7 vãos da colunata + 3 edículas, organizando 29 tramos separados por colunas e meias-colunas encimadas, todas, por estatuária antropomórfica que se destaca de um "céu" azul (fig. 25.2) e nuvens cor-de-rosa.
Figura 25.1 . Planta do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
Figura 25.2 . Pormenor da parede contrária à cena do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
A delimitação curva, assim criada, defronta o proscénio, que se constitui como um parede de grande sofisticação arquitectónica. Esta parede divide-se em sete tramos a a' a b a a' a. Estes tramos são separados por colunas adossadas a que se sobrepõe estatuária, avançando sobre o plano médio da parede e estas colunas, de um suposto primeiro piso, constituem a base de outras colunas, mais recuadas que também sustêm estatuária.
A elaboração desta parede cenográfica é, de facto, de um requinte que, nesta época, penso que somente Palladio seria capaz de propor, num discurso" floreado" como que antevendo os tempos barrocos.
Figura 25.3 . Pormenor da parede contrária à cena do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
Figura 25.4 . Pormenor da parede do proscénio do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
Esta cena retrata uma zona urbana, com três ruas desembocando num espaço aberto, uma praça, num perfeito ambiente citadino. As ruas são construídas elevando-se progressivamente a partir da zona do palco, bem como reduzindo a altura do casario que as conforma, de modo progressivo, provocando um trompe-l'oeil tridimensional. Não estando os actores nessas ruas, destruindo a relação entre as alturas, a ilusão de óptica é perfeita.
Figura 25.5 . Pormenor da parede do proscénio do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
Figura 25.6 . Corte longitudinal do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
A figura 25.6 mostra o perfil do teatro, na sua maior dimensão cénica. Para este efeito de profundidade, a parede exterior projecta-se como se fosse uma abside.
No entanto, a rua principal do cenário, a central, consegue transmitir uma sensação de profundidade, como se a rua fosse efectivamente comprida, enobrecida com a estatuária das casas patrícias que a conformam.
Figura 25.7 . Parte central do proscénio do Teatro Olímpico . Verona . Andrea Palladio . Vincenzo Scamozzi |
Depois de completar este teatro, com a extraordinária cenografia, Scamozzi faz um novo teatro, desta vez o Teatro em Sabionetta. Ainda que menos rico e menos elaborado, o teatro segue a lição do Teatro Olímpico.
Figura 25.8 . Teatro de Sabionetta . Vincenzo Scamozzi |
Figura 25.9 . Teatro de Sabionetta . Vincenzo Scamozzi |
Figura 25.10 . Teatro de Sabionetta . Fons Scaenae . Vincenzo Scamozzi |
A disposição dos espectadores não difere muito da disposição do Teatro Olímpico, com a ressalva de agora o espaço ser bastante mais reduzido.
Não deixa de ser curioso o facto de alguns "espectadores" (figura 25.11) olharem com interesse o desenrolar dos enredos das peças teatrais, intercalando-se com os elementos escultóricos que, tal como no Teatro Olímpico, se situam na vertical das colunas, como "estilistas" fossem.
Figura 25.11 . Teatro de Sabionetta . Pormenor da galeria . Vincenzo Scamozzi |
Depois do Teatro Olímpico, e antes de passarmos à obra de Vicenzo Scamozzi, assinalar duas obras, ambas obras teóricas que estes dois arquitectos deixaram para a posteridade: "I quattro libri dell'architettura", publicado em quatro volumes, em Veneza, em 1570, uma década antes da sua morte.
A obra de Palladio constitui uma peça teórica fundamental, ainda hoje fonte de compreensão para os arquitectos que se interessem pelas questões eminentemente arquitecturais, isto é, a montante do mero acto de projectar desenhando, bem como a jusante.
Figura 25.12 . "I quattro libri dell'architettura" . Veneza 1570 |
E de Vincenzo Scamozzi, outra obra teórica notável: "L'Idea della Architettura Universale", publicado em Veneza, em 1615, quase que meio século após o tratado de Palladio.
Figura 25.13 . "L'Idea dell'architettura Universalle" . Veneza . 1615 |
Depois da morte de Palldio, Scamozzi continuou a trabalhar na Villa Capra, alterando, no entanto, a configuração da cúpula. A Villa Pisani detta la Roca, da autoria de Scamozzi, é, sem dúvida uma quase-réplica da Villa Capra. Mas a parecença deve-se ao facto da casa se manter isolada, sem quaisquer dependências anexas e por o alçado principal da Roca Pisana se parecer muito com os 4 alçados iguais da Capra.
Figura 25.15 . Villa Pisana detta La Roca . 1575/78 . Vicenzo Scamozzi |
De facto, os alçados laterais bem como o alçado tardoz, três iguais entre si, além de não serem coroados por frontões, têm três panos avançando o central ligeiramente sobre os laterais, tal como a fachada principal. Estes três panos laterais dispõem de duas janelas em cada pano lateral e o central abre-se numa serliana. Sob as janelas dos panos laterais abrem-se janelos de uma cave, tal como na fachada principal, e sobre uma das janelas dos tramos laterais, bem como no pano central, abrem-se pequeníssimos janelos mesmo encostados à face inferior da cornija arquitravada que remata os panos verticais da casa.
Figura 25.16 . Villa Pisana detta La Roca . 1575/79 . Planta e alçado principal . Vicenzo Scamozzi |
A planta, lembrando a Rotonda, não segue, no entanto, a distribuição "radial" da casa de Palladio que é submetida a dois eixos de simetria ortogonais entre si.
Figura 25.17 . Villa Pisana detta La Roca . 1575/79 . Salão central . Vicenzo Scamozzi |
Mas o maior contraste entre a casa de Palladio e a de Scamozzi encontra-se no seu interior, haja em vista a abismal diferença decorativa entre uma e outra! Este compartimento, o coração da casa, de Scamozzi, que mostra a figura 25.17 (figura manuseada resultante da junção de duas imagens), é de um ascetismo quase que inacreditável. Com efeito, a planta é desenhada como um octógono que alterna lados rectos com lados côncavos e os imaginários vértices são apenas indicados por pequenos apontamentos que são trechos de uma cornija forte, denticulada.
Três dos quatro lados abrem-se em varandas longas (figs. 25.17 e 25.18), sob a forma de serlianas, podendo os utentes da casa desfrutar de vistas para três orientações possíveis.
Figura 25.18 . Villa Pisana detta La Roca . Zona central de três alçados, vista desde o interior . 1575/79 . Vicenzo Scamozzi |
Já nos finais do século XVI - 1597 - , Scamozzi desenha a Villa Molin, perto de Pádua. A planta segue o esquema herdado de Palladio. O esquema apresenta um eixo de simetria especular no sentido transversal (fig.25.19) e tem a fachada principal virada para o canal, fachada essa que é única, dado que as outras três fachadas são iguais, como se disse.
Figura 25.19 . Villa Molin . Planta e alçado principal . 1597 . Pádua . Vicenzo Scamozzi |
Figura 25.20 . Villa Molin . Alçado principal . 1597 . Pádua . Vicenzo Scamozzi |
O majestoso pórtico hexastilo (figura 25.20) tem como equilíbrio de massas o enorme lanternim de planta quadrada que enobrece o cuore da casa (figura 25.21). A iluminação zenital faz-se por quatro grandes janelas termais que se abrem em lunetas intersectando a cúpula de planta quadrada. No piso superior do grande salão, assim iluminado, desenham-se dois pares de colunas em trompe l'oeil, de cada lado do quadrado que encerra este espaço central.
Figura 25.21. Villa Molin . Salão central . 1597 . Pádua . Vicenzo Scamozzi |
a seguir: (26SET19)
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ULTIMA MANIERA
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