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GUARINO GUARINI (II)

Sensivelmente da mesma época do Palácio Carignani, 1679, também data o Colégio dos Nobres, de Guarino Guarini, ou seja o Colegio dei Nobili, também em Turim. Com uma planta sem qualquer semelhança com a do Palácio Carignani, o edifício tem uma planta rectangular (figura 40.1) de proporções harmoniosas, acercando-se do duplo quadrado.
Figura 40.1 . Colegio dei Nobili . Planta do piso térreo . Turim . 1679 . Guarino Guarini
No entanto, a contemplação dos alçados parece dar a certeza de que se trata de um desenho de Guarini, atendendo-se a uma escala em que a pormenorização das paredes e dos rasgamentos não deixam dúvidas quanto à autoria.
Figura 40.2 . Colegio dei Nobili . Fachada principal . Turim . 1679 . Guarino Guarini
Os três estratos e três pisos são bem divididos por cornijas arquitravadas, e com as cornijas tornando-se mais elaboradas e mais presentes, à medida que se sobem os andares.Também são dignas de nota as janelas-bandeiras em todos os três pisos,desde as mais simples, no piso térreo, até às mais sofisticadas nos outros dois pisos.
Figura 40.3 . Colegio dei Nobili . Ângulo com a fachada principal . Turim . 1679 . Guarino Guarini
Mais uma vez, estas paredes contentoras são executadas em tijolo, material a que Guarino Guarini deu um relevo de alta significação.
Figura 40.4 . Colegio dei Nobili . Pormenor da fachada principal . Turim . 1679 . Guarino Guarini
A figura 40.4 põe em evidência o trabalho notável de assentamento de tijolo. Se Borromini foi o principal inspirador no que concerne a espacialidade que haveria de se evidenciar a partir do Palácio Carignano - capitulo 39 -, a Miguel Ângelo poderá Guarini ter ido buscar a a-semantização da composição das molduras das janelas, de tão amaneirados que são os recortes das molduras.

E se de influências se poderá falar, além das já mencionadas, algumas mais se poderão notar nas igrejas que se seguem neste olhar para o classicismo arquitectónico.

Em Turim e nas instalações do Palácio Real, Guarini haveria de concretizar dois espaços religiosos da maior importância: A Capela do Santo Sudário - Cappella della Sacra Sindone, e a igreja/capela de São Lourenço. A primeira ter-se-ia começado a construir em 1667 e a segunda um ano depois, acabando-se em 1690.
A Capela do Santo Sudário não é mais do que um espaço pequeno, aposto ao fundo da Capela-Mor do Duomo de Turim, juntando-a ao Palácio Real. É uma construção assaz estranha e para ela se tem de ascender por duas escadas de lanços paralelos, que se desenvolvem por trás do Altar-mor, conforme mostra a figura 40.5.
Figura 40.5 . Cappela della Sacra Sindone . Axonométrica . Turim . 1667 . Guarino Guarini
No seu centro encontra-se um elemento piramidal que contém o pedaço de linho que, segundo os crentes, tem impressa a imagem de Cristo, o Santo Sudário, aquando da sua subida a caminho do Calvário. O pouco espaço disponível é ocupado quase que na totalidade por este monumento que a figura 40.6 ajuda a melhor o visualizar.
Figura 40.6 . Cappela della Sacra Sindone . Turim . 1667 . Guarino Guarini
A planta deste espaço tem um desenho verdadeiramente intrigante, ainda que bem revelador do que proporciona como a figura 40.7 nos elucida. Juntamente com a axonometria atrás mostrada, podemos imaginar este espaço eminentemente vertical terminado por uma cúpula verdadeiramente extraordinária (figura 40.8).
Figura 40.7 . Cappela della Sacra Sindone . Planta . Turim . 1667 . Guarino Guarini
Figura 40.8 . Cappela della Sacra Sindone . Cúpula . Turim . 1667 . Guarino Guarini
Figura 40.8a . Cappela della Sacra Sindone . Cúpula - pormenor do zénite . Turim . 1667 . Guarino Guarini
A figura 40.8a pormenoriza o zénite do interior da cúpula cónica.
A cúpula assenta sobre um tambor não muito alto, sobre o qual assenta uma cúpula que se apoia sobre o referido tambor em apenas três trompas truncadas, cada uma com um óculo redondo. Também outros três óculos se intercalam com estes e sobre o conjunto circular assenta um tambor de seis óculos separados por pequenos tramos rectos. Os óculos e estes tramos rectos constituem uma série de pequenas serlianas e que em cada uma das partes rectas se encaixa uma edícula convexa. Sobre este tambor vai assentar uma outra cúpula que não é mais do que um tronco de cone com pequenas aberturas como nos mostra a figura 40.9, numa composição de extrema audacidade e novidade.
Figura 40.9 . Cappela della Sacra Sindone .interior da Cúpula - pormenor . Turim . 1667 . Guarino Guarini
O exterior deste complexo sistema de remate, já podendo dizer-se que se apresenta como um cone, dá uma certa medida dos jogos de geometrias audazes, fazendo, ainda que sob outros contornos, lembrar a espiral de Sant'Ivo alla Sapienza arquitectada pelo mestre de Guarini,  il Borromini
Figura 40.10 . Cappela della Sacra Sindone . Tambor e cúpula . Turim . 1667 . Guarino Guarini
A figura 40.10 mostra, pelo exterior, as janelas que iluminam o cone. Como se verifica, estas são pequenos rectângulos pareados, enquanto que no interior a forma é de quarto de elipse. Ainda sobre este magnífico exemplar do espírito barroco, na mesma figura pode ver-se, uma vez mais, o trabalho minucioso da alvenaria de tijolo, quer nos medalhões ovais, quer no acentuar do rebordo da cobertura bem como no das janelas. A pontuar as pilastras, as bases e os capitéis são de pedra branca, marcando a diferença.

A poucos metros de distância encontra-se o outro espaço religioso, a igreja de São Lourenço que, segundo o projecto original de Guarini, deveria ter a configuração final que a figura 40.11 revela.
Figura 40.11 . Igreja de São Lourenço . Projecto . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
No entanto, devido a complicações que se perderam e adquiriram vários significados, a "fachada" principal da igreja ficou integrada na fachada das dependências do conjunto palaciano, conforme se vê na figura 40.12.
Figura 40.12 . Igreja de São Lourenço . Alçado "principal" . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
A figura 40.13 mostra o corte transversal e a planta da Igreja de São Lourenço, planta esta que representa o pronau que ficou sem face própria.
Figura 40.13 . Igreja de São Lourenço . Corte transversal e planta . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
A planta deste espaço é também de um requinte imaginativo muito grande: é centralizado pelo uso de oito serlianas convexas perfazendo o seu perímetro. Ao fundo da serliana do meio, em vez dos recessos côncavos, abre-se um espaço mais dilatado, uma oval que, por sua vez, se abre para um espaço curvo, em forma de rim, rematado por duas superfícies também côncavas, onde se encontra a capela-mor. A figura 40.14 dá-nos uma imagem que, embora deformada pela lente, nos faz sentir a completa concentração deste espaço que, baseando-se num cilindro, portanto uma figura receptora, o seu perímetro é constituído, e apenas, por superfícies convexas, opostas, portanto, à concavidade primacial.
Figura 40.14 . Igreja de São Lourenço . Vista interior sobre a Capela-mor . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
A figura 40.15, já sem a deformação da câmara, mostra bem o rigor da concepção, afinal de uma "extrema simplicidade", baseada no vão tripartido da serliana.
Figura 40.15 . Igreja de São Lourenço . Vista interior sobre o lado do Evangelho e sobre a Capela-mor . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
A serliana da direita é a da capela-mor que apenas se distingue, no perímetro interior, pela profundidade maior em relação as outros altares.
As paredes verticais do espaço fruível têm duas formas distintas: quatro desenham arcos, em planta e correspondem à Capela-mor, à entrada e às capelas do Evangelho e da Epístola. As outras quatro paredes compõem-se também de serlianas mas cujas plantas se traduzem em dois tramos curvos, correspondentes aos pórticos, e um tramo recto correspondente ao arco. Os ângulos destes troços rectos com os curvos é bastante obtuso.
A cobertura deste espaço é de uma extrema e estranha concepção: sobre as paredes assenta um entablamento original em que o friso se compõe de duas partes. Sobre este entablamento assentam as perxinas sobre os tramos curvos das serlianas e sobre as serlianas "principais" desenvolvem-se janelas verticais, de planta circular, abertas também em serlianas (figura 40.16)
Figura 40.16 . Igreja de São Lourenço . Vista interior da cúpula . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
A figura 40.17, contudo, é uma maior aproximação do zénite da cúpula.
Figura 40.17 . Igreja de São Lourenço . Vista interior da cúpula . Turim . 1668/90 . Guarino Guarini
Acima desta composição desenvolve-se outra cúpula parabólica que, no exterior, se inscreve num cilindro. A estruturação desta cúpula é de inspiração nitidamente árabe, outro dos aspectos que Guarini vai buscar ao seu mestre Borromini. Compare-se a estrutura desta segunda cúpula com uma das cúpulas da Mesquita Al Hakim (mesquita de Córdova) (figura 40.18 )
Figura 40.18 . Mesquita Al Hakim - Córdova . Vista interior da cúpula
Olhando com alguma atenção e em pormenor, não deixa de ser curioso fazer-se uma abstracção e olhar-se para um pormenor das aberturas insertas na cúpula (figura 40.19), quase que um antropomorfismo claro mostrando olhos, nariz e boca.
igura 40.19 . Igreja de São Lourenço . Vista interior da cúpula - pormenor . Turim . 1668/90
Guarino Guarini
Exteriormente esta cobertura também demonstra uma inventiva de refinada elegância no saber fazer arquitectural de Guarini, conforme se pode ver na figura 40.20. Não, possivelmente, tão original quanto à que vimos anteriormente mas, mesmo assim, temos dois tambores sobrepostos, diminuindo de volume, e sobre o segundo tambor, e mais pequeno, uma cúpula com oito óculos e sobre a cúpula ainda um remate simulando um lanternim cego.
Figura 40.20 . Igreja de São Lourenço . Coroamento . Turim . 1668/90
Guarino Guarini
Esta cobertura tem ainda alguns aspectos que não posso deixar de os acentuar: No primeiro tambor, abrem-se oito janelas em forma oval, adornadas de delicadas molduras ondulantes. As paredes deste tambor são ligeiramente côncavas e separam-se umas das outras por pilastras simplificadas e por uma cornija arquitravada que se rompe no meio com um pequeno janelo rectangular sobreposto por um pequeno frontão curvo. Entre este tambor e o tambor superior abrem-se janelas em pequenos avanços convexos que se intercalam com pequeníssimos janelos. Sobre estes, o segundo tambor faz-se com oito paredes convexas, com janelas ladeadas por colunas, e que se separam por pilastras. Finalmente a cúpula que é dividida por oito nervuras provocando oito calotes onde se inserem pequenas janelas ovais, também estas orladas por molduras ondulantes.

a seguir: (23ABR20)
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GUARINO GUARINI (III)
BERNARDO VITTONE

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