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13AGO20
FRANÇA (cont.)
No Vale do Loire, os Castelos de Amboise e de Blois foram as residências preferidas pelos Reis de França. O "Chateau de Blois" foi talvez o palácio mais bem querido por inúmeros dos Reis franceses. Já existente no século XV, foi sendo ampliado até ao século XVII.
A figura 45.1 mostra-nos a implantação da estrutura "anelar" deste palácio, fechando-se no topo de uma colina sobranceira ao Rio Loire.
Figura 45.1 . "Chateau de Blois" . Vista de Nascente |
Neste castelo, a Sala dos Estados Gerais - Salle des États Généraux (figura4 5.2), datando do século XIII e onde a "fleur-de-lys" está omnipresente, é um dos símbolos da importância que este castelo teve, bem como da importância de Blois como a capital de referência francesa antes de Paris.
Figura 45.2 . "Chateau de Blois" . Salle des États Généraux |
A figura 45.3 mostra a imagem manipulada (a imagem 45.1 mostra bem as posições relativas exactas) de modo a poder ver-se as três fases que o castelo medieval sofreu. Da direita para a esquerda, temos a ala de Luís XII, a do meio a ala de Francisco I que recebeu o trono em 1515 e, finalmente, e no lado esquerdo, a ala de Gaston d'Orleans, projectada por François Mansart, de meados do século XVII (a leitura da direita para a esquerda, correspondente à passagem dos séculos, contraria a natural ordem de leitura de texto).
Figura 45.3 . "Chateau de Blois" . Pátio |
A ala do meio, a de Francisco I, apresenta no pátio interior a célebre escadaria renascentista, inserida, claramente também numa linguagem renascentista, em contraste com a ala da direita, de tijolo e pedra. No entanto, esta ala, ainda que de feição gótica, apresenta já bastantes sinais de transição para a renascença.
Figura 45.4 . "Chateau de Blois" . Escadaria exterior |
A figura 45.4 revela bem os sinais do novo código linguístico, através da separação dos estratos/pisos, com uma clara diferenciação entre o segundo e o terceiro piso, por meio da diferenciação da zona central, que se poderia, com algum exagero, apelidar de friso. As janelas, "bi, tetra e hexapartidas" são sempre adornadas de pilastras nas suas couceiras.
A escada, de caracol, é um dos sinais mais extrovertidos da grande mudança de mentalidades entre mundo medieval e o mundo moderno: enquanto que antes o subir e o descer uma escada se deveria fazer com algum se não bastante recato, agora o uso da escada far-se-á numa descontracção quase cenográfica, que atingirá o seu cúmulo em época barroca.
Figura 45.5 . "Chateau de Blois" . Escadaria exterior. Pormenor de vista exterior e vista interior |
A figura 45.5 mostra-nos uma parte do exterior e uma parte do interior da escadaria. É curioso observar-se que a linguagem ainda se atem a formulário gótico onde alguns elementos, no entanto, como pilares perfazendo as couceiras das entradas de luz se remetem à luz do classicismo.
Figura 45.6 . "Chateau de Blois" . Ala Francisco I |
Esta mesma ala tem como fachada voltada para a cidade a que a figura 45.6 nos mostra. A parede divide-se em 14 tramos não todos iguais quer em dimensão quer em tratamento parietal. Os lumes são quase todos de arco perfeito, exceptuando três próximos do torreão. A divisão entre estratos também se faz por frisos duplos, tal como na face voltada para o pátio.
Figura 45.7 . "Chateau de Blois" . Vista de Poente |
A imagem 45.7 mostra a localização do castelo com o rio Loire e com o partes da cidade medieval.
Ao nome de Francisco I também ficou ligado outro "chateaux", dos mais afamados e grandiosos. Tanto na sua arquitectura como na sua apropriação magnificente sobre o seu território. Situando-se sobre o Rio Cosson que faz parte da bacia hidrográfica do Loire e Cher: O castelo de Chambord. Nunca acabaria por ser completado e a imagem que dele se pode ter é de um luxo sem limites.
Construído como um "pavilhão de caça", este edifício é de uma extrema estranheza, sob alguns aspectos: a começar pela distribuição dos cómodos, não obedecendo a qualquer lógica compositiva mas, e apenas, a uma lógica distributiva que me parece depender mais de um uso determinado ou, até eventualmente, de preocupações com a insolação. A figura 45.9 mostra bem as "irregularidades" da compartimentação, principalmente nos cantos abaluartados e, ainda mais, visto com atenção, os enxalços das janelas das torres são desiguais, voltadas para o mesmo quadrante solar.
A frontaria do palácio (figura 45.10), virada para a mata , é notável. É um dos momentos que o aforismo "À Grande e à Francesa" fazem justiça a esta vertente francesa.
A paisagem "infinita" que se tem deste quadrante é a que a figura 45.11 mostra. Este domínio francês sobre a natureza atingiu o seu auge no barroco francês ou, como os franceses gostam de dizer, o classicismo francês.
Mas este palácio marca de uma forma avassaladora um código linguístico renascentista, com os três estratos/pisos separados por três elementos, que já havíamos visto em Blois, que, em rigor, são dois frisos separados por uma faixa, quase como se estivesse um entablamento e uma arquitrave iguais, separadas por um friso liso.
O seu interior ainda revela algumas reminiscências góticas, como se vê na figura 45.12.
Este interior não poderia ser mais contrário ao que a figura 45.13 nos mostra. Dois códigos distintos da linguagem arquitectónica, o código gótico no Salão dos Estados Gerais e o código "all'antica", ou seja, à moderna, impresso na Capela palatina (figura 45.14). Aqui, paredes são formadas por pilastras duplas geminadas sobre pedestais com a altura de cerca de um quarto da altura das colunas. Sobre os capitéis desenvolve-se um entablamento grandioso que se salienta para encimar as colunas. É curiosa a inserção de óculos cegos, sobre a cornija do entablamento, figurando janelas rematadas por frontões triangulares como se podem ver sobre as três paredes cegas que perfazem a parede frontal onde se encosta o altar. A abóbada é suportada por arcos de volta inteira que se apoiam sobre as colunas geminadas.
O interior deste edifício ostenta a escadaria genial que se deve a Leonardo da Vinci. É uma escada helicoidal, aliás, são duas escadas helicoidais, conforme a figura 45.13 demonstra, através de uma maqueta, que sobem paralelas, ligando pisos desencontrados.
Este tipo de escada ficou a ser uma referência depois da escada exterior do Castelo de Blois, como vimos acima. Os pilares que sustentam a hélice são compostos e, na face exterior à escada, são da ordem compósita, mas de uma estilização extrema (figura 45.14), em que a primeira fileira de folhas de acanto se reduzem a um relevo mínimo, quase que as simbolizando, deixando os enrolamentos serem predominantes.
A caixa de escadas também é notável, na sua quase individualidade, uma peça trabalhada como se fora uma escultura. O lanternim enorme que a coroa, oferece-lhe uma luminosidade brilhante. A ascensão pela escada é um caminho (figura 45.15) em que a arquitectura poderá ser usufruída, para quem for sensível a esta percepção de "promenade architectural", tão cara a Le Corbusier. Os tectos desta ala são em caixotões onde o "F" de François se alterna, em xadrez, com a "Salamandra", emblema do Rei François I.
Figura 45.15 . "Chateau de Chambord" . Escada central do palácio (pormenor) |
A figura 45.15 mostra à evidência esse trabalho de arquitectura/escultura e, no passadiço último de acesso à cúpula (figura 45.16), pode ver-se, mais uma vez, um "F" e a "salamandra".
Segundo consta, este palácio tem 440 compartimentos, entre os quais os dois quartos que as figuras 45.17 e 45.18 mostram.
Os quartos apresentam a particularidade de mostrarem o conforto proporcionado aos seus habitantes, onde as lareiras têm lugar preponderante e as camas se encontram encostadas às paredes.
É interessante verificar-se que a linguagem já vista em Azay-le-Rideau e em Blois, para só citar dois nomes, se repita também neste edifício, como a figura 45.19 nos revela, mostrando uma porção do interior do seu pátio onde, também se pode verificar a "herança" das escadas de Blois.
E para terminar de falar deste notável edifício,há um dos aspectos que mais me impressionam neste palácio, além do que para trás escrevi: a ASSIMETRIA na composição da sua fachada principal.
A figura 45.20 representa as "duas" versões, possíveis, da frontaria do palácio se esta fosse, efectivamente, simétrica (compare-se com a figura 45.10). Ignoro estudos detalhados sobre Chambord. Mas penso que este "paradoxo" arquitectónico valeria bem a pena ser decifrado. Não faz sentido que uma composição de alçado de um palácio real, com esta dimensão e manifesto alarde de poder, fuja a um dos conceitos mais respeitados na arquitectura clássica - a simetria.
E é interessante verificar-se que, também ao nível do telhado, esta aparente "desordem" ainda mais se densifique com a "total liberdade" dos torreões e das chaminés (figura 45.21) que, ao todo no palácio, são em número de 282. A visão deste remate, numa amálgama de volumes, e mais uma vez negando a simetria especular, quase parece "formular uma cidade".
E é interessante verificar-se que, também ao nível do telhado, esta aparente "desordem" ainda mais se densifique com a "total liberdade" dos torreões e das chaminés (figura 45.21) que, ao todo no palácio, são em número de 282. A visão deste remate, numa amálgama de volumes, e mais uma vez negando a simetria especular, quase parece "formular uma cidade".
a seguir: (27AGO20)
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PHILIBERT DE L'ORME
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