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27AGO20

FRANÇA (continuação)

PHILIBERT DE L'ORME

Depois de uma viagem a Itália, Philibert de L'Orme ou simplesmente Delorme, construiu esta ligação entre dois corpos da Hôtel Boullioud, em Lyon. É uma intervenção difícil, entre duas alas paralelas e com escadas em vértices angulosos. A galeria de passagem e ligação entre os dois corpos preexistentes apoia-se num único pilar, com uma pequena fonte adossada, e nas duas trompas que perfazem o suporte das duas esquinas reentrantes. conforme se vê tanto nos desenhos de projecto como nas figuras 46.1 e 46.2, a planta e o alçado, bem como na figura 46.3.

Figura 46.1 . Galeria Boullioud . planta ao nível do 
andar superior . Lyon . 1536 . Philibert de L'Orme

Figura 46.2 . Galeria Boullioud . Alçado . Lyon
1536 . Philibert de L'Orme

Figura 46.3 . Galeria Boullioud . Fachada . Lyon . 1536 . Philibert de L'Orme

Era preciso saber-se muito de de geometria (figura 46.3) para se conseguir uma tal proeza, nos inícios do século XVI.

O chateau d'Anet é um dos palácios mais emblemáticos de França. Não só por ter pertencido a Diana de Poitiers, uma das grandes figuras históricas das "favoritas" reais, neste caso de Henrique II, mas também por ter sido arquitectado por Philibert de L'Orme.
A planta do que poderia de ter sido o palácio está impressa na figura 46.4. 
Figura 46.4 Chateau d'Anet . Planta do conjunto . 1547/1552 . Philibert de L'Orme 

Mas, na realidade somente se construíram poucas alas, em relação ao que poderia ter sido, conforme se pode ver na figura 46.5, em que as alas Norte e Nascente não se edificaram. 
Figura 46.5 . Chateau d'Anet . Visão aérea do construído . 1547/1552 . Philibert de L'Orme 

Da ala Nascente, que "esconderia" a capela palatina, somente esta ficou construída, razão pela qual a referida capela apresenta duas torres tão altas, em nítida contraposição ao seu tamanho. Se a ala tivesse sido construída, as torres teriam estado mais em consonância com a referida ala que, pela planta, tudo leva a crer teria sido constituída apenas por uma dupla arcaria ou duplo porticado, sendo o mais proeminente em relação ao cour, corrido, apenas espaçando-se mais as quatro colunas correspondentes à dimensão da frente da capela, e a segunda ala sendo interrompida pela entrada já no espaço da capela.
A galeria defronte à capela mostra-se num labor de pedra, muito "italiano", descontando-se, no entanto, o remate da esquina, em torreão - o donjon.
A entrada (figura 46.6) insere-se num corpo de alvenaria de tijolo, que uma "armação" de pedra contém, tão à maneira francesa, a que os franceses chamam la chair de l'architecture e que não significa outra coisa senão o tijolo contido pela pedra.
Figura 46.6 . Chateau d'Anet . Vista do canto Nascente-Sul. 1547/1552 . Philibert de L'Orme 

Também na entrada, sobre o portão de acesso ao complexo, "repousa" Diana, a Caçadora, desnudada e abraçando-se a um veado. Aliás, também por cima da serliana que perfaz a entrada grandiosa, especa-se um outro veado.
Figura 46.6 . Chateau d'Anet . Fachada Sul - fachada da entrada. 1547/1552 . Philibert de L'Orme 

A capela palatina é de planta centralizada (figura 46.7), numa composição espelhando-se o chão e a cobertura, em abóbada, num desenho de complexa atmosfera de concentração.
Figura 46.7 . Chateau d'Anet . Perspectiva interior focando-se no Altar-Mor . 1547/1552
Philibert de L'Orme 

Figura 46.8 . Chateau d'Anet . Perspectiva interior focando-se na cúpula . 1547/1552
Philibert de L'Orme

O exterior da capela "enferma" da falta da galeria projectada, conforme já acima assinalei, bem como, provavelmente, do acabamento final do terceiro estrato, solução bem despida bem como despidas são as duas torres piramidais de grande projecção. Aliá, o contraste entre o esmero do lanternim e estes elementos de que acabo de nomear, mostram bem a "falta" de acabamento.
Figura 46.9 . Chateau d'Anet . Capela de Diana de Poitiers . Fachada principal . 1547/1552
Philibert de L'Orme
A planta da capela é de um requinte extraordinário, conforme se pode ver na figura 46.10.
Figura 46.10 . Chateau d'Anet . Capela de Diana de Poitiers . Planta . 1547/1552
Philibert de L'Orme

Do lado de fora do complexo ergue-se uma outra capela (figura 46.11), desta vez a capela funerária onde repousam os restos mortais de Diana de Poitiers.
Figura 46.11 . Chateau d'Anet . Capela funerária de Diana de Poitiers . Planta, alçado e corte transversal
1547/1552 . Philibert de L'Orme
A sua planta, ainda muito presa a uma certa composição basilical, ainda que reduzida em dimensões, teve como finalidade a deposição dos restos mortais da proprietária.
Figura 46.11 . Chateau d'Anet . Capela funerária de Diana de Poitiers
Fachada principal . 1547/1552 . Philibert de L'Orme

.A fachada da capela é de uma extrema sobriedade, estrato único a que se sobrepõe um ático/dado, de altura considerável. A composição é de três tramos, de ritmo aba, rematados por um enorme entablamento, bastante singelo e de cornija muito saliente. O ático/dado é rematado por uma cornija arquitravada, de grande projecção e o respectivo entablamento rasga-se, formando um frontão triangular, embora de pequena altura. Sobre este ático/dado, e apenas sobre o tramo b ergue.se um outro ático/dado, que serve de "essa" a uma urna, sem dúvida transportando o significado da capela.

Do palácio, no que concerne à sua vivência, mostro duas imagens. A figura 46.12, de uma parte do vestíbulo de entrada, é de se admirar a boa execução das paredes em que se destacam as pilastras coríntias geminadas e os suportes de arcarias complexas, descarregando o espaldar da escadaria na parede do fundo. É de admirar-se a sustentação do piso superior, feita por uma laje em balanço, laje essa feita de pedra, com uma perícia que somente um estudo muito apurado de geometria e estereotomia permite. Não é por acaso que Philibert de L'Orme foi um dos grandes geómetras de todos os tempos.
Figura 46.12 . Chateau d'Anet . Vestíbulo da entrada . 1547/1552 . Philibert de L'Orme

E a figura 46.13 dá-nos uma perspectiva sobre o leito de Diana de Poitiers, em Anet, dado que no Palácio de Chenonceau também tinha o seu quarto quando dona do palácio.
Figura 46.13 . Chateau d'Anet . Quarto de Diana de Poitiers
1547/1552 . Philibert de L'Orme

A figura 46.14 mostra-nos "três fases" da vida de Diana de Poitiers: uma pintura mostrando o seu retrato, a óleo, na sua pujança, Diana como deusa da caça e, finalmente, Diana, piedosamente ajoelhando-se perante Deus.
Figura 46.14 . Chateau d'Anet . Diana de Poitiers

Depois de cair em desgraça, deixando de ter o patrocínio do Rei, De L'Orme isolou-se e escreveu os seus tratados de arquitectura onde o desenho teve lugar de destaque, com toda a lógica. A figura 46.15 mostra um detalhe de como inserir um arco pleno numa superfície curva
Figura 46.15 . Desenho de um Tratado de Philibert de L'Orme


Em Paris, em 1567, publica-se o Premier tome de l’architecture, de Philibert de L’Orme.

Também a De L'Orme se deve a "invenção" do telhado em casco de barco invertido, como nos mostra a figura 46.16, de várias construções que vão das mais banais até às mais complexa.
Figura 46.16 . Telhados à Philibert de L'Ome

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