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12MAR20
FRANCESCO CASTELLI - BORROMINI (III)
San Giovanni in Laterano, tida como a igreja mais antiga da cidade de Roma, dos anos 20 do século IV, onde se baptizavam todos os romanos, é a Catedral de Roma. É dedicada a São João Baptista e a São João Evangelista.
Em 1644, o Cardeal Giovanni Battista Pamphili foi eleito Papa Inocêncio X. Através do seu esmoler-mor, Virgilio Spada, a obra de reconversão da Basílica foi entregue a Borromini, tendo Bernini sido preterido. A obra deveria estar pronta em 1650, para o Jubileu. Portanto, à época, seis anos era um período bastante estreito de tempo.
A basílica primitiva tinha cinco naves (figura 38.1) e as naves extremas laterais da basílica eram tão baixas que Borromini optou por derrubá-las e construir outras.
As cinco naves eram divididas por colunas com o espaçamento entre as primeiras e as undécimas mais estreito e igual e maior entre as restantes.
No entanto, Borromini, não satisfeito com a quantidade de vãos que a nave central apresentava, resolveu derrubar algumas colunas e, em vez de nove arcos, passou a propor apenas cinco.
Figura 38.1 . Basílica de São João de Latrão . Planta |
O desenho 38.2 explica esse feito. Assim, a quarta coluna a contar da esquerda desaparece bem como a sétima. Em compensação, no terceiro, quarto e no sexto e sétimo vãos primitivos, ergue quatro colunas, uma em cada vão, portanto. De um alçado com o ritmo a b b' b b' b b' b a (figura 38.2 . superior) propõe um alçado com o ritmo: a b a b a b' a b a b a (figura 38.2 . inferior). Enquanto que na primeira hipótese os vãos eram todos abertos, na segunda hipótese, e que ficou, somente se abriram os vãos b, ficando assim a nave principal a comunicar com as laterais apenas por cinco vãos.
Os vãos a, fechados, constituiriam edículas com imagens de Santos.
Este subterfúgio de monumentalização e compactação da nave também se coaduna mais com o espírito tridentino de nave única.
Figura 38.2 . Basílica de São João de Latrão . Alçados interiores da nave principal . Borromini |
Este processo construtivo fez com que o tecto de madeira da nave principal que Pio IV houvera encomendado, não tivesse que ser derrubado, assim se mantendo. No entanto, pensa-se que Borromini teria preferido cobrir este espaço com uma abóbada de aduelas paralelas entre si e dispostas em diagonais (figura 38.3), como havia já feito no tecto do Oratório dos Filipinos e viria também a fazer no Colegio di Propaganda Fide.
Figura 38.3 Basílica de São João de Laterão . perspectiva da nave com cobertura abobadada . Borromini |
Na realidade, a parede da nave que contem a entrada, tem por planta um meio hexágono (figura 38.4), condizente com a composição que o tecto poderia ditar e que a figura 38.3 consegue reconstituir.
Figura 38.4 Basílica de São João de Latrão . Entrada axial para a nave principal . Borromini |
A manutenção das cinco naves permitiram também a Borromini poder iluminá-las directamente. O corte transversal da basílica (figura 38. 5) mostra bem esses dispositivos lumínicos e também os perfis dos três tipos de tectos da igreja.
Figura 38.5 Basílica de São João de Latrão . Corte transversal . Borromini |
As naves laterais junto da nave central (figura 38.6, à esquerda) são alternadamente cobertas a cúpulas, nos tramos quadrados e a abóbadas nos tramos rectangulares e mais estreitos, e as naves extremas (figura 38.6, à direita) são sempre cobertas por cúpulas muito rebaixadas quer nos tramos quadrados quer nos rectangulares.
Figura 38.6 Basílica de São João de Latrão . Naves laterais . Borromini |
O contraste entre o tecto original da nave central, de madeira como era uso nas basílicas romanas, e a cúpula do tramo maior não poderia ser mais diferente (figura 38.7).
Figura 38.7 Basílica de São João de Latrão . Nave central e nave lateral . Borromini |
Outra das características da obra de Borromini, desde os primeiros tempos da sua estada em Roma, é a proliferação de putti alados, fazendo a transição entre as estruturações horizontais com as verticais, como se pode verificar melhor na figura 38.8.
Figura 38.8 . Basílica de São João de Latrão . Putti |
A figura 38.9 , dá uma perspectiva sobre a nave principal, a partir do segundo arco, a contar da entrada. É de realçar o "tapamento" dos intercolúnios mais estreitos com o aparatoso desenho de volumetria convexa que os altares apresentam, propositadamente talhados de pedra contrastando com a cor neutra das paredes.
Figura 38.9 Basílica de São João de Latrão . Nave central . Borromini (paredes) |
Figura 38.10Basílica de São João de Latrão . Abside original |
Mas a fachada principal de São João de Latrão só haveria de se completar na primeira metade do século XVIII, sob desenho do arquitecto Alessandro Glalilei.
O historial da Igreja de Sant'Agnese in Agone é bastante atribulado, pois que começando por ser um projecto de Carlo Rainaldi, passou depois para Borromini quando a sua fachada já alcançava os 3 metros de altura. Depois passou novamente para Rainaldi e, entretanto, Bernini desenhou um novo frontão para a entrada principal e depois passou em definitivo para os arquitectos Rainaldi, pai e filho.
A figura 38.11 mostra, em desenho, as torres da fachada desenhadas por Borromini (lado esquerdo) e as torres de Rainaldi, como acabariam por ficar (lado direito).
Da fachada de Borromini acabaria por ficar a sua forma curva reentrante. O desenho da figura 38.12 mostra, talvez com um certo rigor a proposta de Borromini, com as torres mais baixas e com um frontão mais monumental que o proposto, e realizado, pelo traço de Bernini (figura 38.13 ), sem a pujança borrominiana.
O interior de Sant'Agnese (figura 38.14) não é de Borromini, como se pode deduzir, tal a profusão de cor. Não deixa de ser, no entanto, mais um dos esplendores barrocos.
Depois de 1637, a Capela do Colégio de Propaganda Fide, primeiramente encomendada e idealizada por Bernini, foi demolida e substituída pela obra de Borromini, arquitecto preferido pelo Papa Panfili, Inocêncio X.
Figura 38.14 . Cúpula de Sant'Agnese in Agone . Roma . Rainaldi - Carlo e Girolamo Rainaldi |
A jóia do seu interior reside na Capela dos Reis Magos. É uma sala rectangular, porém, com os cantos arredondados (figura 37.15). Portanto, temos uma simbiose geométrica entre um "rectângulo, uma oval e um octógono". O tecto deste espaço é de uma engenhosidade espantosa. A sua decoração não é mais do que uma outra sofisticação em que os elementos, aparentemente construtivos, como sejam as aduelas de suporte, retalham o tecto, tornando este espaço como se fora uma construção gótica, em que os elementos verticais, de suporte, continuavam o seu papel estruturante pelo tecto, dando suporte à cobertura.
Figura 38.15 . Capela dos Reis Magos . Tecto e paredes . Roma . Borromini |
Também a libertação dos cunhais de estruturas aparentes se pode tomar em paralelo com a arquitectura islâmica.
E, no interior os elementos estruturantes verticais mantêm o mesmo desenho de prolongamento dos empuxes verticais, conforme se vê na figura 38.16.
Figura 38.16 . Capela dos Reis Magos . Vista do Altar-Mor . Roma . Borromini |
Os alçados interiores da capela confirmam o aspecto "goticizante" de todo o espaço (figura 38.16). Este sentir estruturante de Borromini, valeu-lhe o epíteto de GÓTICO, um dos piores insultos de que uma pessoa poderia ser alvo. Góticos eram os alemães, os bárbaros, os modernos que tinham rejeitado l'architettura all'antica!
Aliás, este tipo de coroamento de pilares, colunas e pilastras que se prolongam para além e acima dos respectivos ábacos só têm paralelo na arquitectura egípcia. Os capitéis, mais uma vez, infringindo o "normal" entendimento do enrolamento das volutas de dentro para fora, são de fora para dentro (figura 38.17). E, também facto curioso, em vez de um elemento floral ou estrelar, Borromini insere a cabeça de um delicado putto.
Figura 38.17 . Capela dos Reis Magos . Pormenor de um cunhal interior . Roma . Borromini |
O alçado para a via di Propaganda Fide é nitidamente borrominiano (figura 38.18), proliferando mais as curvaturas, remetidas agora para as janelas, além do tramo central que, também ele, é côncavo, contrastando com a janela central convexa. As outras janelas dos seis tramos são côncavas. O ritmo da facada é interessante: a a' a b a a' a. De estrato único e com ático-piso, os tramos são divididos por fortes pilastras.
Figura 38.18 . Fachada do Colegio di Propaganda Fide - zona da Capela e zona adjacente. Roma . Borromini |
O alçado principal, com os três tramos à esquerda da entrada principal, abrangendo a capela bem como os outros três tramos, à direita abrangendo uma sala e as escadas, apresenta um a"ondulação" bem ao espírito borrominiano. Assim, as pilastras extremas são levemente côncavas e dispostas em ângulo obtuso em relação à frente da rua; as pilastras que ladeiam a porta de entrada também são levemente côncavas e também dispostas em ângulo obtuso.
A figura 38.19 mostra bem o desenho da fachada bem como a respectiva planta.
Figura 38.19 . Alçado do Colegio di Propaganda Fide - zona da Capela e zona adjacente. Roma . Borromini |
Num registo que se pressuporia plano, dada a a estreiteza da rua, Borromini faz ondular esta fachada (figura 38.20). Além de "inaugurar" uns capitéis fora da sua gramática habitual, dado que inscreve uns sulcos verticais, também coroa o estrato com uma cornija arquitravada, bem projectada, e com uma cachorrada forte, anunciando os ressaltos das pilastras.
Figura 38.20 . Alçado do Colegio di Propaganda Fide - pormenor da fachada da zona da Capela e zona adjacente. Roma . Borromini |
E este edifício concentra duas intervenções dos arqui-rivais: Bernini e Borromini. A figura 38.21 mostra o alçado do edifício que se localiza na Praça de Espanha, do lado esquerdo da imagem, e que é projecto de Bernini e, do lado direito, a fachada de Borromini para a via di Propaganda Fide.
Figura 38.21 . Colegio di Propaganda Fide - Cunhal da Praça de Espanha e a via di Propaganda Fide . Roma . Bernini . Borromini |
Figura 38.22 . Igreja de Sant'Andrea delle Fratte . Tambor e Campanário . Borromini |
Figura 38.23 . Igreja de Sant'Andrea delle Fratte . Campanário . Borromini |
Figura 38. Anjo com a Coroa de espinhos e Anjo com a inscrição da Cruz Gian Lorenzo Bernini |
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