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2JAN20 

GIAN LORENZO BERNINI (I) . Arquitecto e Escultor Magistral

Gian Lorenzo, filho de um escultor com uma certa projecção, Pietro Bernini,  nasceu em Nápoles a 7 de Dezembro de 1598, tendo a família imigrado para Roma onde foi um dos maiores arquitectos e escultores do Barroco e de sempre.



Depois de ter "estagiado" junto de Carlo Maderno no Palácio Barberini, o seu primeiro trabalho a solo foi a fachada (figura 33.1) da igreja de Santa Bibiana, em Roma, realizada entre 1624/26.Penso não errar se muitos se interrogarão se esta é uma fachada que mereça o epíteto de barroca. De facto, não se pode dizer que ela se ondule, retrocedendo-se ou projectando-se espacialmente. É composta de dois estratos-pisos, e a largura divide-se em três tramos. O tramo central avança sobre o plano dos outros laterais. A separação dos tramos faz-se por meio de três pilastras, a do meio salientando-se, e os tramos dos extremos são rematados por pilastras duplas, também uma salientado-se à outra.
Figura 33.1 . Santa Bibiana . Fachada . Roma . 1624/26 . Gian Lorenzo Bernini

O estrato térreo é rematado por um entablamento bastante alto, em que a arquitrave e a cornija se compõem em nervuras horizontais, sendo o friso liso. Sobre este entablamento assenta um ático-dado que acompanha os avanços e recuos das pilastras que o dividem.

O tramo central que, no primeiro piso, não se distingue dos laterais, no segundo piso não só se adianta aos outros como adquire maior altura, terminando num frontão interrompido. Os tramos laterais têm uma balaustrada sobreposta a uma cornija arquitravada  que também se insere sobre o entablamento do piso térreo na dimensão do tramo central. Esta fachada, sem a cruz que se insere no vértice do frontão parece ser mais a fachada de uma residência apalaçada do que a fachada de uma igreja. Talvez que a adopção das janelas nos tramos laterais, em vez de edículas ou nichos, contribuam para esta "dessacralização" da fachada.

Mas, e ainda para terminar, há que se reparar que a cornija arquitravada, que remata superiormente o segundo piso, recua, acompanhando a parede do tramo central que está num plano mais atrás do que os planos dos tramos laterais. É, de facto, um "desvio" barroco, uma tridimensionalização acentuada, dando uma consistência à fachada, pondo em destaque a "edícula" em que transforma a porta do andar superior de acesso ao varandim.

No mesmo ano de 1624 Bernini recebe a encomenda para o Baldaquino (figura 33.2) sob a cúpula imensa que Pietro da Cortona haveria de concluir, em São Pedro, no Vaticano. O contraste entre a igreja de Santa Bibiana e esta peça de "arquitectura-escultura" não podia ser maior. Parece da mão de outra pessoa. Não será por acaso que, para muitos historiadores, o baldaquino tenha também levado uma "mão" de Borromini. As colunas torsas ou salomónicas, bem como todo o conjunto é feito de bronze. Encimando as colunas, dispõem-se as volutas que se juntam sob o globo. Quatro anjos pontificam os topos das colunas.
Figura 33.2 . Baldaquino . São Pedro do Vaticano . 1623/1633 . Gian Lorenzo Bernini
O froco, imitando na perfeição pálios processionais, aliás, como a própria estrutura do baldaquino, conferem uma solenidade acrescida ao espaço eclesial, transformando o conjunto numa atmosfera processional. Ao fundo da figura 33.2 vê-se a Cadeira de Pedro (figura 33.3), uma caixa guardando a relíquia que supostamente resta da cadeira de São Pedro.
Figura 33.3 . Cadeira de São Pedro . 1647/1653 . Gian Lorenzo Bernini
Figura 33.4 . Baldaquino - pormenor . São Pedro do Vaticano . 1623/1633 . Gian Lorenzo Bernin
As colunas, sem base, inserem-se em folhagem e logo se torcionam (figura 33.3), passando depois a ser envoltas em trepadeiras, a partir sensivelmente do terço da altura. Putti e insectos, provavelmente abelhas, também fazem parte da decoração das colunas. O brasão de armas da família Barberini, o Papa Urbano VIII, continha três abelhas.
A forma torsa das colunas são uma pretensa herança do Templo de Jerusalém e da basílica de Constantino, fazendo assim uma ligação entre os tempos remotos do Cristianismo, tornando-o perpétuo.

De 1645 a 1652, Bernini executa a encomenda para a Igreja de Santa Maria da Vitória, na mesma rua onde iria nascer a Igreja de San Carlino, de Borromini, e a igreja de Santo André ao Quirinal, de Bernini. E a encomenda é a capela Cornaro, uma autêntica encenação como se se tratasse de um proscénio, com dois camarotes ladeando-o, e, como cenário, a escultura famosa da "Transverberação de Santa Teresa" (figura 33.5), se não a mais famosa, uma das mais famosas de Bernini e da História da Escultura, de todos os tempos.
Figura 33.5 . "Transverberação de Santa Teresa . Figura central da Capela Cornaro . Santa Maria das Vitórias . 1645/52 . Gian Lorenzo Bernini
A capela é também uma obra prima de encenação (figura 33.6). O destaque que Bernini deu ao altar da capela é extraordinário. O pórtico, de colunas geminadas, sustenta um entablamento curvo, convexo, e tanto o entablamento como o frontão, quebrados e este recuado, são de mármore claro, fazendo o contraste com o mármore escuro das colunas.
Figura 33.6 . "Transverberação de Santa Teresa . Capela Cornaro . Santa Maria das Vitórias . 1645/52
Gian Lorenzo Bernini

Nos camarotes (figura 33.6a) estão representados os familiares Cornaro, comitentes da obra, cujas figuras são realizadas em mármore branco enquanto que os elementos arquitectónicos tanto do altar como dos camarotes laterais são de mármores policromados.
Figura 33.6a . "Transverberação de Santa Teresa . Capela Cornaro .
Igreja de Santa Maria das Vitórias . 1645/52 . Gian Lorenzo Bernini
É de se reparar no detalhe que Bernini deu aos elementos arquitectónicos, em perspectiva acelerada, mostrando um camarote de dois vãos separados por três colunas jónicas e um tecto abobadado em caixotões. As figuras apoiam-se em coxins que se apoiam sobre uma colcha de "duas tonalidades".

Figura 33.7 . Castelgandolfo
Entre 1658 e 1661, Bernini ergue a igreja de San Tommaso da Villanova, em Castelgandolfo (figura 33.7), a localidade de veraneio dos Papas, nas margens do Lago Albano.
Figura 33.8 . Igreja de San Tommaso da Villanova . Fachada . 1645/52
Gian Lorenzo Bernini 
Figura 33.9 . Igreja de San Tommaso da Villanova . Vista para o Altar-Mor . 1645/52
Gian Lorenzo Bernini
Conforme se pode ver pela figura 33.8 e verificar-se pela figura 33.9, a igreja é de pequenas dimensões e obedece a uma planta de cruz grega (figura 33.10)

O interior, sendo bastante simples, atendendo-se à época e conforme nos mostra a figura 33.9, tem impressas pilatras de fuste estriado, com os cantos cortados a 45º e um entablamento bastante desenvolvido, com a cornija denticulada.
Figura 33.10 . Igreja de San Tommaso da Villanova . Planta . 1645/52
Gian Lorenzo Bernini
Figura 33.11 . Igreja de San Tommaso da Villanova . Cúpula . 1645/52
Gian Lorenzo Bernini
A cobertura, em cúpula artesoada (figura 33.11), segue uma das características da obra de Bernini que é a marcação de oito aduelas que descarregam nos troços do cilindro de sustentação da cúpula, e, entre estas aduelas desenvolvem-se os caixotões em forma de favo de mel. Por cima de cada uma das oito janelas do tambor, Bernini dispõe de medalhões, contornando baixos-relevos, e ligando-os através de guirlandas.


Em 1662, começa a igreja de Castelgandolfo, também nas margens do Lago Albano, em Ariccia, Bernini tem uma intervenção urbana de monta, frente ao palácio da família Chigi, com uma igreja de planta redonda, fazendo o núcleo de um vão urbano, também redondo (figura 33.12) - "um cilindro dentro de um meio-cilindro". 
Figura 33.12 . Igreja de Santa Maria Assunta . Implantação . Ariccia . 1662/64
Gian Lorenzo Bernini
A frente do conjunto urbano (figura 33.13) tem um desenho bastante depurado que, sem aviso, poderia ser tomado como não correspondente ao período barroco. Dois porticados de três vãos separados por pilares e de concepção bastante depurada emolduram a frente da igreja constituída por um porticado aposto a uma arcada de também três vãos de volta redonda, formalizando um pronau. 
Figura 33.13 . Igreja de Santa Maria Assunta . Frontaria . Ariccia . 1662/64
Gian Lorenzo Bernini
Um entablamento ligeiramente a uma cota mais alta do que os entablamentos dos corpos que a ladeiam a que se sobrepõe um frontão de uma simplicidade extrema, apenas coroado por cornija singela rematam a frente da igreja. O corpo da igreja é um cilindro que, no exterior, é demarcado por pilastras de pouca expressão, que se fundem num entablamento simplificado.
A planta da igreja, geometricamente definida por um círculo com três altares reentrantes, de cada lado e perfurando esse círculo, tem também a inserção de uma oval que perfaz a Capela-Mor. A sequência destes espaços, desde o pronau, é admirável no que respeita à composição da complexa geometria.
Figura 33.14 . Igreja de Santa Maria Assunta . Planta . Ariccia . 1662/64 . Gian Lorenzo Bernini

A planta da igreja também revela uma concepção algo surpreendente, com a aposição de duas torressineiras atrás, junto da Capla-Mor, perfazendo como que uma cunha que se antepõe ao corpo da capela, e quase tocando nos edifícios que perfazem e acompanham a circularidade do corpo da igreja, conforme a figura 33.15 mostra.

Figura 33.15 . Igreja de Santa Maria Assunta . espaço entre abside e parede da Colegiada . Ariccia . 1662/64
Gian Lorenzo Bernini




Figura 33.16 . Igreja de Santa Maria Assunta . Cúpula . Ariccia . 1662/64 . Gian Lorenzo Bernini

E a cúpula desta igreja tem, mais uma vez, a "assinatura" de Bernini (figura 33.16).

a seguir (19JAN20)
GIAN LORENZO BERNINI (II) . Arquitecto e Escultor Magistral




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